A REVELAÇÃO de que a operação Lava Jato de Curitiba estava tentando comprar o programa de espionagem PEGASUS, de uma empresa israelense, para espionar o ex-presidente Lula, é mais um capítulo sórdido da trama igualmente sórdida em que se transformou aquela malsinada força-tarefa.
O programa PEGASUS não é um programa que auxilia nas investigações, é um mecanismo de espionagem e vigilância, usado para invadir celulares em tempo real e vasculhar a vida das pessoas – qualquer pessoa. É um sistema clandestino que implode de vez a privacidade e a segurança dos indivíduos.
Na verdade, o PEGASUS é uma arma cibernética para cometer crimes que violam direitos fundamentais como a privacidade, a imagem das pessoas, o sigilo das comunicações telemáticas e a proteção de dados.
(Agora há pouco, estourou um escândalo do PEGASUS na Hungria de Viktor Orban, outro ídolo de Bolsonaro, onde invadiram 300 números de telefone. Não por acaso, o governo brasileiro tentou comprar também, sem licitação, o programa israelense.)
Chega a ser estarrecedor que procuradores da República, encarregados de zelar pelo fiel cumprimento da lei e proteção dos fundamentais, tenham, eles mesmos, tentado adquirir essa arma que põe em risco o sistema constitucional de proteção aos direitos da pessoa humana e dos cidadãos – qualquer cidadão.
Sim, a tecnologia PEGASUS funciona na base do “clique zero”. Ou seja, sem que a vítima da espionagem tenha clicado ou acessado qualquer coisa na internet o sistema pode ser acionado contra ela, clandestinamente, espionando suas mensagens, seus dados, fotos, contatos, localização – é uma tecnologia de ponta, uma arma sofisticadíssima que detona ainda mais a nossa já detonada cibersegurança.
Obcecados com a perseguição a Lula; convencidos de que eram os heróis da pátria ou varões de Plutarco, os investigadores da Lava Jato não se contentavam em investigar crimes, queriam monitorar pessoas, mesmo que para isso tivessem de recorrer a um programa tecnológico clandestino, contra o qual o cidadão fica completamente indefeso.
Que raio de Ministério Público é esse que, em vez de proteger os direitos do cidadão, torna-o refém de uma tecnologia que destrói esses direitos? A Lava Jato, que tantas vezes golpeou a lei e a Constituição Federal, perdeu a noção de limite; o sapateiro foi além das sandálias e deu no que deu – nulidades processuais, destruição e fiasco!
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