O cagaço do presidente

A CPI do Senado solicitou explicações a Jair Bolsonaro sobre as revelações feitas pelo deputado Luís Miranda (DEM-DF) a respeito do caso Covaxin e o presidente disse que não vai responder nada. Em sua famosa live das quintas-feiras, e no seu melhor estilo bravateiro e chulo, debochou: “Caguei. Caguei pra CPI!”.

E foi isso mesmo: Bolsonaro se borrou inteirinho por causa da CPI. Especialmente pela sintonia entre a CPI e as ruas. Isso fez com que o impeachment voltasse a ser uma hipótese mais que possível, provável. Assim, o presidente bufão, que se dizia antissistema, teve de cair com tudo no colo do Centrão e do toma-lá-dá-cá que ele, ingenuamente, tanto condenava.

O outro efeito da CPI que fez Bolsonaro defecar pra valer está sendo a corrosão de seu desempenho nas pesquisas de intenção de voto. Ele perde para o Lula em todas as pesquisas e em todos os cenários, e o número dos que reprovam seu governo bateu recorde nesta semana – depois da CPI, Lula decolou e Bolsonaro emborcou.

E tem mais um medinho que afrouxa o esfíncter do Bolsonaro e o faz evacuar com ou sem vontade: a CPI, sem indiciá-lo formalmente, está apurando todos os seus crimes. Logo, ao deixar a presidência terá de se ver com a justiça criminal – e vai dividir o banco dos réus com seus rebentos.

A tática de Bolsonaro e do bolsonarismo é desqualificar a CPI e seus integrantes a qualquer custo. Típico. Em vez de apresentar suas provas e esclarecer de vez os fatos investigados, o presidente prefere desqualificar os investigadores e a investigação. Típico de quem não tem defesa para exibir.

Claro que não tem santo nem bobo na CPI – o mais bobo ali é senador! Mas não se trata de saber quem é santo ou quem não é – o que importa são os fatos, as provas e contraprovas. E isso tudo está sendo feito às claras, publicamente, com absoluta transparência. Por que o presidente não faz a sua parte e não vai lá calar a boca de todo mundo com os seus argumentos, dados e fatos?

Simplesmente porque não os tem. Ele é valente só no cercadinho do Planalto, diante daquele bando de inhenho que o vai aplaudir mesmo quando defeca pela boca. No cercadinho ele é um leão, na CPI é tchutchuca.

As bravatas de Bolsonaro, e sua linguagem inapropriada e chula, já são uma marca registrada de seu governo – talvez a única. Bolsonaro entrará para os apêndices da História como um presidente que não foi: não governou, não enfrentou a pandemia, não entendeu o tamanho de seu cargo e não deveria ter chegado aonde chegou. Suas bravatas dão a exata medida de sua fraqueza.

Em suma, é perfeitamente compreensível a linguagem nauseabunda do presidente; diante da CPI ele tem motivos de sobra para ter desarranjos intestinais agudos. Cagaço. A CPI pode abreviar seu mandato (sobretudo se as ruas se levantarem pra valer); pode impedir o segundo mandato nas urnas; e pode mandá-lo pra cadeia – que é o lugar dos genocidas.

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