Não era pra derrubar

SE os denunciantes do Escândalo da Covaxin quisessem derrubar Bolsonaro, teriam derrubado: bastaria esperar um pouco mais, aguardar a efetivação do primeiro pagamento do contrato superfaturado e o crime estaria plenamente consumado, exaurido. Era só esperar mais um pouquinho e dar o flagrante, pois o dinheiro já estava empenhado. Não haveria defesa para o capitão!

Ao denunciar o esquema da “vacinagate” no Ministério da Saúde antes que houvesse um pagamento e uma efetiva lesão aos cofres públicos, o deputado denunciante, um bolsonarista de raiz, na verdade “salvou” Bolsonaro, e ainda é capaz de encher a sua bola – dando a ele a oportunidade de suspender o contrato e sair dizendo que no seu governo não tem corrupção.

Os bolsonaristas denunciantes não queriam derrubar o presidente, queriam apenas chacoalhar o terreno em torno da presidência. E com quais intenções?

O mundo político anda curioso para saber por que o deputado Luís Miranda (DEM-DF) e seu irmão (funcionário do Ministério da Saúde) – o primeiro, um bolsonarista convicto da base de apoio a Bolsonaro -, fizeram a denúncia. Seria para atingir apenas o deputado Ricardo Barros, o líder do governo na Câmara? Seria para se cacifarem em futuras negociações políticas com o Planalto?

Ninguém sabe, o que se sabe é que simples desconforto ou compromisso ético não é. É briga de gangue. O deputado Luís Miranda é um bolsonarista ferrenho, reacionário, da bancada da bala e antiambientalista. Não tem nada no seu histórico político que autorize crer que estava preocupado com a saúde dos cofres públicos e do povo brasileiro.

Perdida a oportunidade de dar um “flagrante” no presidente da República, resta agora investigar o esquema de corrupção no Ministério da Saúde, com envolvimento da liderança do governo na Câmara e do próprio presidente – que já disse não ter como saber o que acontece no âmbito de seus ministérios.

Como assim? Se Bolsonaro não sabe o que acontece à sua volta, como é que vai prometer um governo sem corrupção? Ele exigia que Lula soubesse tudo o que acontecia na Petrobras, que é a terceira maior petroleira do mundo com presidência própria, mas não sabe o que acontece em seus ministérios, debaixo de seu nariz.

Para quem prometia acabar com a corrupção, acabar com a “roubalheira” do PT e fazer um governo antissistema, confessar agora que não sabe o que acontece num dos mais importantes ministérios da República, o da Saúde, não é apenas uma confissão de incompetência – é uma evidência de que Bolsonaro jamais presidiu ou presidirá o Brasil; seu legado será apenas ódio, mentira e morte.

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